O cordel que mais me deu trabalho para escrever, pois relembrar esse sujeito alegre e bonachão ainda é muito doído.
O Voo da Andorinha
Olá meu povo, e aí tudo bem?
Coisa boa é contar histórias,
Falar de coisas antigas e novas
Coisas que guardamos na memória.
Falar de pessoas boas é melhor,
É um luxo, um bem, uma glória.
Acho que vocês concordam,
A vida é mesmo coisa divina.
E eu bem sei que tem gente
Com quem a morte não combina.
Uma dessas pessoas com certeza
Era o nosso Tonho de Virgilina.
Todos nós um dia vamos morrer,
Do ser humano essa é a sina.
Ninguém fica pra semente,
É isso que a vida nos ensina,
Mas a morte tinha justamente,
Que levar Tonho de Virgilina?
Esse foi um grande desaforo,
Me ache doido quem quiser,
Uma maldade dessa não se faz,
Com um sujeito de tão boa fé,
Ainda mais com Tonho sambador
Grande homem aqui de São José.
Quando juntava com seus amigos
A todos trazia muita alegria,
Cantando seus sambas e modas,
Fosse de noite ou fosse de dia.
Vivia sempre rindo, sempre feliz
Era desse jeito todo dia.
Ainda não vi ninguém dizer
Que viu Tonho de cara fechada,
Ou que estivesse ocupado demais
Pra atender a um camarada.
Tristeza e raiva não eram com ele,
O seu negócio era dar risada.
Qualquer um que passasse por ele
Por certo o encontraria sorrindo,
Era um senhor de meia idade,
Com um coração de menino.
Um menino que nos disse adeus
Esse foi um triste destino.
Uma música que ele sempre cantava
Falava de uma ave pequenininha
Que partia em busca de amor
Mas que voltava ferida e sozinha
E dessa vez ele partiu pra longe
Deixando aqui muitas andorinhas.
Sambador, tocador, cantor e amigo,
Que numa tarde daqui partiu,
Fazendo nosso coração rachar,
Deixando o mundo mais frio,
Deixando emudecer um samba,
Deixando o tamborete vazio.
Vamos sempre guardar na memória,
Suas brincadeiras e sua energia,
Suas piadas, causos e histórias,
Sua simpatia e sua grande alegria.
Para que jamais desapareça seu riso
E sua historia não fique vazia.
Mesmo sem a sua presença
Sem ocupar aqui seu lugar,
Tonho jamais será esquecido,
Dele nós sempre vamos lembrar.
Ainda que sua voz esteja muda,
Nós continuamos a cantar.
A andorinha voou a última vez,
E como vivente cumpriu sua sina.
Mas para gente boa como ele
A história nunca termina,
Quanta saudade ainda faz:
Nosso Tonho de Virgilina.
Pablo Rios
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