A chuva registrada na Bahia no final de dezembro não foi suficiente para
reverter os estragos da pior estiagem que atinge o semiárido do
interior do Estado nas últimas quatro décadas.
De acordo com a Coordenadoria da Defesa Civil do Estado, 259 municípios baianos permanecem em situação de emergência devido à seca, que afeta nessas localidades quase 3 milhões de pessoas.
O prejuízo à economia ainda pode chegar a R$ 7,8 bilhões, segundo estimativa da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb). A falta d'água está prejudicando as pequenas lavouras de subsistência e castigam os rebanhos bovinos, caprinos e ovinos.
O fotógrafo Flavio Forner esteve entre 2 e 19 de dezembro viajando pela região, percorrendo cerca de 2 mil quilômetros e visitando alguns municípios entre os mais afetados pela estiagem prolongada. Suas fotos documentam o drama humano da seca e o seu impacto na economia e na paisagem da região.
Propriedade entre Iaçu e Amargosa.
Rafael e Rodrigo, filhos do agricultor Vander da Silva. "Eu costumo
usar água do poço apenas para beber, não tem mais como irrigar a roça,
agora o que restou é só para matar a sede", disse Silva.
A viagem de Forner começou em Salvador. Da capital baiana, o fotógrafo seguiu até Valença, cidade procurada por muitos sertanejos em buscam uma oportunidade de renda com o turismo, e Camamu, outro polo de atração de moradores do interior à procura de trabalho e alimentos.
A seguir, na jornada do município de Mutuípe a Iaçu, passando por Amargosa, os sinais mais evidentes da seca começaram a aparecer, com o gado sendo tocado pelas estradas por pastores em busca das poucas áreas ainda disponíveis com vegetação.
Em Iaçu, Forner encontrou Constantino, de 92 anos, que conduzia por 12 km, à beira da rodovia, o gado de um vizinho. Em troca do trabalho, o vizinho lhe prometeu apenas um pouco de leite.
Na mesma região, o fotógrafo encontrou outro sertanejo, Raimundo, que tocava o gado do alto de seu cavalo. "O que cai do céu não enche nem um copo d'água", reclamou. Em Amargosa, alguns pais optam por mandar seus filhos para a beira da estrada para pedir dinheiro aos motoristas que passam. As crianças correm risco constante de atropelamento e de assédio por parte dos caminhoneiros.
Turismo
A viagem prosseguiu pelas cidades de Itaberaba, Boa Vista do Tupim e Vera Cruz até Lençóis, na Chapada Diamantina, onde muitos agricultores ainda utilizam manejo com fogo sem os cuidados necessários e acabam perdendo o controle, com grande impacto no meio ambiente.
Em Boa Vista do Tupim, o agricultor Vander da Silva e seus filhos Rodrigo e Rafael tentam sobreviver com o pouco de água que restou em um poço. "Eu costumo usar água do poço apenas para beber, não tem como irrigar a roça, agora o que restou é só para matar a sede", disse Silva.
A seguir, o fotógrafo seguiu para Andaraí. Em Igatu, um distrito da cidade, o turismo de aventura sofre com a falta d'água em suas cachoeiras. Na praça central, guias turísticos locais ficam a espera dos turistas, geralmente estrangeiros.
O guia Raimundo Cruz dos Santos disse que há muitos anos não vê uma situação como esta. "Já vi este rio (Paraguaçu) cheio de margem a margem nesta época do ano. Este mês (dezembro de 2012) era para chover toda a semana. As cachoeiras estão completamente secas", contou. "Nunca vi fazer tanto calor aqui como neste ano de 2012."
Forner então seguiu por Mundo Novo e Baixa Grande até Ipirá, onde muitos agricultores, cansados da seca e sem perspectiva de futuro, estão colocando suas propriedades à venda, optando pela vida em cidades litorâneas.
Carcaça de gado em sítio atingido pela seca em Iaçu
(Foto: Flavio Forner/BBC)
Fonte: G1
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